domingo, outubro 25

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Já está Online o novo Portal do Remechido!!
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segunda-feira, setembro 24

EXPOSIÇÃO EM S.B. DE MESSINES EVOCANDO O REMEXIDO

EXPOSIÇÃO EM S.B. DE MESSINES EVOCANDO O REMEXIDO
Teodomiro Neto traçou o perfil do famoso algarvio
Foi com o intuito de dar a conhecer informações relativas à passagem do Remexido pela localidade de Loulé, Lagoa e a sua ligação a São Bartolomeu de Messines, que a Junta de Freguesia reuniu em exposição, vários objectos ligados à vida do “Remexido”. A exposição vai estar patente até ao próximo dia 13 de Outubro. Presentes na inauguração, estiveram o presidente da Junta de Freguesia, José Vítor Lourenço, o delegado Regional da Cultura do Algarve, Gonçalo Couceiro, o presidente da Assembleia Municipal de Silves, João José Ferreira, bem como Domingos Garcia, vereador da Câmara Municipal de Silves. Após uma explicação sobre a exposição, a cargo de Aurélio Cabrita, investigador de história local e regional, foi tempo de discursos. O primeiro a agradecer a presença de todos e a manifestar o agrado por ter na sua freguesia este exposição, foi o presidente da Junta, uma vez que “esta personagem tem uma forte ligação a Messines e faz todo o sentido, expôr artigos seus aqui”. O presidente fez questão de mencionar o apoio “dos municípios de Beja, Loulé, Lagoa e Silves, pois sem eles não seria possível reunir aqui todas estas peças ligadas ao Remexido”, agradecendo ainda “ao Museu Etnográfico do Trajo Algarvio e a todos os que colaboram nesta exposição”. José Vítor Lourenço referiu ainda que haverá outros eventos associados à exposição. Um dos dias será dedicado à narração de contos, elaborados por crianças e animadores no ATL da Casa do Povo de S. Bartolomeu de Messines. Também será levada a palco uma peça de teatro intitulada “O Remexido”, no dia 4 de Outubro, bem como uma palestra de António Monteiro Cardoso, autor de “A Guerrilha do Remexido”, livro que será reeditado com o apoio da Junta de Freguesia, um dos motivos de grande orgulho do presidente. Gonçalo Couceiro enalteceu esta exposição “que fala de lutas, ideais, sentimentos, da tolerância das pessoas ou da falta dela, um problema que ainda está patente nos nossos dias”, deixando o apelo para que esta exposição passe por outros locais. Também o presidente da Assembleia Municipal mencionou a importância “desta iniciativa de louvar, pois é uma oportunidade de conhecermos o nosso passado e de pegar nele para pensar no futuro”, opinião partilhada por Domingos Garcia, sendo esta “uma história que faz parte do nosso concelho e, sobretudo, da freguesia de S. Bartolomeu de Messines”. Foi a Teodomiro Neto, historiador messinense, que coube palestrar, neste primeiro dia de exposição, sobre a vida do “Remexido”. Começou por dizer que “esta é uma figura ilustre, conhecida pelas más experiências que deixou na nossa terra, contudo, faz parte da nossa história. Cresci a ouvir falar nele, por histórias contadas pela minha mãe que, por sua vez, já as ouvia dos seus avós”, dando a percepção de que é uma figura histórica de que faz todo o sentido falar. Continuou, contando a história de José Joaquim de Sousa Reis, conhecido por ter defendido a causa de D. Miguel, iniciando uma guerrilha no Algarve. Conta a história que nasceu em Estômbar, no dia 19 de Outubro de 1796, e ficou órfão muito novo, tendo sido entregue ao seu tio, o prior de Alcantarilha. Devido à sua persistência no casamento com Maria Clara Machado Bastos, ao qual o seu tio se opunha, começou a ser apelidado de «Remexido». Interessou- se pelo desenvolvimento de São Bartolomeu de Messines, promovendo a criação de uma escola, de um forno comunitário e da feira de Nossa Senhora da Saúde, instituída em 1825. Durante a Guerra Civil, entre 1832 e 1834, o «Remexido » defendeu D. Miguel, tomando partido pelos Absolutistas. No 24 de Abril de 1834, no Sítio da Ermida de Sant’Ana, em Messines, confrontaram-se as duas facções políticas. Os Liberais foram derrotados nesta confronto algarvio, mas diferente foi o desfecho da guerra civil a nível nacional, já que a 26 de Maio de 1834 os Absolutistas renderam-se. Assim, o «Remexido» tentou regressar ao seu quotidiano, mas os ódios da Guerra Civil não lho permitiram. Refugiou-se então numa caverna e mais tarde organizou uma guerrilha que se desenvolveu no Algarve e Baixo Alentejo. “Remexido” resistiu, mas acabou por ser preso a 28 de Julho de 1838 e fuzilado em Faro, a 2 de Agosto de 1838.


In A Avezinha

Link Original; aqui

Exposição “Remexido” inaugura em Messines



A exposição “Remexido” inaugura no próximo dia 15 de Setembro, pelas 20:00 horas, no edifício da sede da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines. A mostra pretende dar a conhecer a vida de José Joaquim de Sousa Reis, mais conhecido por “Remexido” na história do século XIX no Algarve, período marcado pelas lutas liberais, onde este se insere como defensor da causa miguelista. A exposição vai estar patente até ao próximo dia 13 de Outubro.

sábado, agosto 25

[Livros] - A Guerrilha do remexido no Concelho de Monchique, de José Rosa Sampaio



Edição em formato *.pdf do livro de José Rosa Sampaio, "A Guerrilha do Remexido no Concelho de Monchique" anteriormente publicado em 2 edições do Jornal de Monchique.

Aqui ficam os links:


Link para o site de José Rosa Sampaio:

Link directo para o livro:

sexta-feira, junho 1

Paragem de actividades

Saudações!

Desta é que é... Devido a inumeros factores, começando pelo exilio no campo, e acabando na falta de tempo (e paciência) para vir á net, devo avisar todos os visitantes do "Homem da Serra", que vou deixar de postar informação e reduzir drasticamente a comunicação por e-mail.
Talvez este outono (se conseguir finalmente comprar a câmera) comece a filmar o documentário. Inumeras pessoas a entrevistar...
Mais uma vez, aqui fica o convite a quem queira dar seguimento a este humilde projecto...

Obrigado e até qualquer dia

osfilhosdoremexido@sapo.pt

quarta-feira, dezembro 13

Exposição REMEXIDO, em Loulé


Saudações!
A exposição Remexido, está patente até dia 30 do corrente mês, no Convento do Espírito Santo, em Loulé.
A inauguração foi bastante agradável, e tivemos oportunidade de assistir à conferência do Dr. José Vilhena Mesquita, que elucidou todos aqueles que desconhecem de todo, ou em parte, o contexto Algarvio, nacional e internacional, que levou um Homem, José Reis, a tomar as rédeas da Guerra Civil na serra Algarvia.
A exposição trouxe novos dados á investigação desta conturbada época, nomeadamente documentos do Arquivo de Loulé, que nos mostram que aquando do aprisionamento do Remexido, o mesmo foi levado a Loulé, antes da chegada a faro, para o tribunal.
Tomo a liberdade de aqui deixar o convite para todos os que queiram dar uma visita a esta excelente exposição.
Aqui ficam também os nossos sinceros agradecimentos ao dr. Luis Guerreiro, pela disponibilidade e simpatia com que recebeu o nosso projecto.

Reservas para visitas guiadas através do tel 289400600

segunda-feira, dezembro 4

O Remechido, glória e morte de um mito.

Com a colaboração de José Carlos Vilhena Mesquita, disponibilizamos agora este excelente texto, que integrou a publicação da exposição REMEXIDO, do Arquivo de Lagoa.






O Remechido, glória e morte de um mito.
por José Carlos Vilhena Mesquita*


A questão que mais tem preocupado os estudiosos do guerrilheirismo português ou da mítica história dos nossos rebeldes primitivos, tem sido a hipotética tese dos heróis populares que se não tivessem sido vencidos pelos seus opositores ter-se-iam transformado em indígetes nacionais, com o seu nome gravado a ouro na história pátria.
Não é fácil contrariar essa asserção, embora duvide muito que os chamados heróis populares, de modestas origens sociais e baixo nível de instrução, pudessem alcandorar-se às cadeiras do poder, mesmo que por actos de incontestável heroísmo o país lhes ficasse a dever uma vitória militar, ou até mesmo a independência nacional. Existem alguns míticos heróis populares na nossa história, mas nenhum passou disso… uma lenda, uma lição, um modelo de patriotismo, que se recorda e agita, quando ao poder central interessa aguçar os sentimentos nacionalistas do nosso povo. Foi assim com o antigo regime, quando ao "Estado Novo" convinha divulgar urbi et orbi que Portugal já fora grande no mundo, e qual antiga Grécia também era uma honrosa pátria de heróis.
O fenómeno histórico-lendário do Remechido vem nessa esteira. Um homem do povo que sustenta uma causa, empunha uma bandeira e morre de pé, fiel às suas convicções e ao seu idealismo político.
Para os vencedores não passou de um rebelde miguelista que não aceitando a amnistia política publicada após a Convenção de Évora-Monte, se havia transformado por sua livre vontade num bandoleiro, num assaltante de estradas, sanguinário e facínora, um perigoso guerrilheiro, sustentáculo de uma causa que punha em perigo a segurança dos habitantes do Algarve e a própria integridade nacional, já que o seu exemplo servia os interesses das guerrilhas carlistas espanholas, desejosas de concentrarem poderosas forças militares no Algarve e Andaluzia, para investirem contra o ateísmo liberal que se havia apoderado da Península Ibérica.
Foi contra a perversidade dos interesses políticos e das provocações perpetradas pelo governo, preferencialmente infligidas sobre a Igreja - de que resultou o pauperismo das massas camponesas - que se reanimaram as guerrilhas e se reacendeu a contra-revolução miguelista. Não podendo contar com as chefias militares que no tempo da guerra-civil conferiram ao exército miguelista a necessária organização e disciplina, estas limitaram-se a levantar um grito de revolta contra a rapacidade dos novos senhores da terra, clamando por melhor justiça e maior protecção às classes desprotegidas. Embora irmanadas no espírito político da ressurreição da causa realista, o certo é que as diversas guerrilhas que por todo o país pegaram em armas fizeram-no em nome de D.Miguel e da moralidade das leis. Combateram ao lado de um ideal, mas tiveram como móbil imediato a necessidade de saciarem a fome, que impiedosamente grassava nas aldeias do interior, esquecidas por um governo demasiado centralizado e por um regime de vorazes clientelas políticas. Depois de quase dois anos de silêncio, de aparente letargia e conformismo, eis que ressurgem das cinzas da guerra e das brumas sebastiânicas, as justiceiras guerrilhas camponesas. À testa desses grupos armados, a que uns chamam bandoleiros e outros simplesmente ladrões de estradas, (re)surgem míticos heróis populares como o Remechido. O verão de 1836 ficou assinalado na história contemporânea pelo escaldante reacendimento do movimento guerrilheiro.
Reparar injustiças, vingar assassinatos e saciar a fome nos campos era a motivação mais plausível daqueles que acamaradaram com as guerrilhas. Voltava a agitar-se o altruístico lema de roubar aos ricos para dar aos pobres. Todavia, agora, era simples e objectivamente um acto de rebeldia e, pior do que isso, um atentado à propriedade. Faltava-lhes a justificação política dos tempos de outrora. Sem uma organização política objectivamente credível, sem um governo acreditado internacionalmente e sem um exército armado, dificilmente as guerrilhas poderiam ser entendidas de outro modo que não as de ladrões e bandidos armados. Desprovidos de conceito e sem fundamento político palpável, faltou-lhes coesão e apoio internacional. Os hipotéticos apoios carlistas não passaram de escaramuças fronteiriças. O Remechido era um pequeno David sem qualquer hipótese de vencer o Golias personificado nas tropas regulares do governo.
Após a Convenção de Évora-Monte e apesar da lei da amnistia política, sucediam-se as vinganças pessoais, com acusações infundadas de roubos e atrabiliárias detenções dos defensores do "trono e do altar", epíteto com que se designavam os fiéis seguidores da causa miguelista. A espoliação dos bens da Igreja e a apropriação do património dos vencidos, suscitou enorme contestação e grande alvoroço nas hostes absolutistas, que encaravam as guerrilhas dispersas pelos recônditos das serranias como uma plausível alternativa de resistência política e sobretudo como uma última esperança de justiça e de retorno à antiga ordem social.
A pacificação da «família portuguesa» tornara-se numa miragem. Quem poderia esquecer ou perdoar os abomináveis actos de violência cometidos sobre homens que acreditaram na paz e no indulto da lei ? O assassinato do general Tomás Cabreira, na cadeia de Faro, a 21-11-1834, juntamente com o pároco do Alvor, tornara-se paradigmático. A essa consentida chacina se devem acrescentar as de muitas outras figuras gradas da usurpação, como Sebastião Martins Mestre (governador de V. R. St.º António), Ludovico José da Rosa (governador de Tavira), Sebastião José Teixeira (capitão-mor de Alcoutim), João Evangelista Machado (juiz dos órfãos de Tavira), Theodoro da Silva Antunes (capitão de voluntários de Lagos), Pedro José Taveira (capitão de ordenanças de Faro), etc, etc. O rol torna-se enfadonho se exaustivamente citado. A hora era de vingança e a justiça dos vencedores. Etiquetar alguém de miguelista era uma condenação que fazia dele inimigo público, destituído dos mais elementares direitos cívicos. Era a causa e a consequência de todas as desgraças.
Por conseguinte, a insegurança instalara-se desde cedo por todo o Baixo Alentejo e serra do Algarve, aonde se acoitavam antigos soldados do exército realista conchavados com camponeses, presbíteros e outros deserdados miguelistas. O ambiente era totalmente desfavorável aos miguelistas, que viam com receio a hipótese de regressarem aos seus lares. Ficaram como que encurralados em plena serra, à espera duma acalmia que tardou até ao desespero. Após seis meses as hostilidades recomeçaram no termo de Silves, mais precisamente nas imediações de S. Bartolomeu de Messines, porque o comandante da Guarda Nacional, pretendendo capturar o Remechido, fizera uma sortida contra «os guerrilhas matadores que se refugiarão nas Serras», acabando por ser assassinado. Estava criado o casus belli com que as autoridades instituídas pretextaram a necessidade de impiedoso extermínio dos malvados ladrões que empestavam a serra. E se os actos de vingança até aí partiam exclusivamente dos vencedores contra os vencidos, passaram, a partir de então, a ter uma reciprocidade mais equilibrada, embora com a agravante de se dirimirem, novamente, no campo militar.
Depressa se formaram bandos de salteadores em nome do "injustiçado Rei D. Miguel", que amedrontavam as populações do interior, forçando-as a abandonar os seus lares e a procurar refúgio nas cidades e vilas do litoral. Para combater o banditismo que assolava a serra constituíram-se colunas móveis que embrenhando-se pelas escarpas dos montes deram destemida caça aos salteadores, capturando mais de cinquenta desertores. Todavia, entre os Batalhões Móveis, os Corpos de Voluntários e a Guarda Nacional não se respirava um ambiente de ordem e fraternidade, mas antes uma permanente rivalidade com frequentes desentendimentos e até pequenos desacatos. Constava que no seio dos dois primeiros existiam muitos "legitimistas" camuflados, por vezes até antigos guerrilhas. Enquanto que nas «Guardas Nacionais - dizia Oliveira Martins - só se admitiam os fiéis a D. Maria, inimigos sabidos de D. Miguel». Por isso as populações sentiam-se mais protegidas quando a seu lado aquartelava a Guarda Nacional.
Apesar da amnistia e dos esforços do governo para pacificar o país, o certo é que os sicários do novo regime instigavam a plebe contra os antigos soldados de D. Miguel e seus adeptos políticos. Entre os homens a abater figuravam os nomes do Remechido, no Algarve, e do Padre Marçal José Espada, no Alentejo. Se antes eram adversários políticos, passaram, agora, a foras-da-lei, salteadores, bandoleiros, bandidos armados, etc. Porém, houve um momento em que José Joaquim de Sousa Reis, vulgo Remechido, pensou apresentar-se às autoridades ao abrigo da amnistia. Para isso mandou o seu filho, Manuel da Graça Reis, a S.Bartolomeu de Messines averiguar se podia regressar sem receio nem ofensa dos seus antigos inimigos. Contrariamente ao exarado na competente lei, foi detido e enviado ao presídio de Silves, de onde, aliás, viria a evadir-se pouco depois. A essas intenções e a este triste episódio referiu-se o próprio Remechido no Conselho de Guerra que o haveria de condenar à morte, em termos que não resistimos à tentação de extractar:
(...) eu obedeci, e principiei a crêr obedecer ao actual Governo da Senhora D.Maria II; porque recebendo a declaração da cessação das hostilidades eu dissolvi a força que commandava, e querendo eu obedecer nem de facto, nem de direito me deixaram obedecer, de direito porque consistia em assignar um Auto que não assignei, de facto porque logo que a força se dissolveu me perseguiram; (...) e para prova de que eu quiz obedecer, é que no dia 30 de Maio de 1834, fiz marchar meu filho, dizendo-lhe tu és uma criança, ninguem te poderá criminar de crime algum, nem de morte, nem de roubos, se tu fôres bem tractado, eu então tambem vou; (...) porém não aconteceu assim porque a perseguição continuou, até que foi preso, e sería morto, se não fosse o Sr.Tenente Coronel de Nº4 (...) outros guerrilhas se apresentaram e foram mortos, vendo eu isto, não tive outro remedio senão esconder-me (...) não tinha tenção de pegar em armas, e a prova é que 27 mezes me conservei occulto fazendo vida de Lobo.
O Remechido, que se encontrava escondido nas imediações da aldeia, perdeu todas as ilusões e assim como ele todos os que o acompanhavam. E a sua desilusão agravou-se ainda mais quando, numa altura em que o filho gemia a ferros, lhe aprisionaram também a esposa, Maria Clara, acusando-a de à semelhança do marido ter cometido certas atrocidades contra os cidadãos liberais e de ter divulgado «noticias altamente subversivas contra o Governo Legitimo de S.M. a Rainha». Parece que a mulher do Remechido propalara o boato de estar prestes a chegar uma esquadra da Rússia para auxiliar a causa absolutista a recuperar o trono, animando com isso os serrenhos a reunirem-se ao marido.
Muito provavelmente, terão sido estes dois episódios a causa próxima do restabelecimento da guerrilha do Remechido - embora existissem desde os finais de 1834 vários bandos de antigos soldados realistas na serra algarvia. A ofensa foi inaudita, pois sujeitaram a esposa do rebelde ao aviltante espectáculo público da rapagem do cabelo e do suplício das palmatoadas em pleno adro da igreja de Messines. Diz-se que o povo, ainda não satisfeito com o bárbaro castigo, pilhou e incendiou a casa do célebre guerrilheiro. A afronta excedeu todos os limites. Contudo, o Remechido não reagiu de pronto, receando o poder de fogo da Guarda Nacional ali estacionada. Esperou melhor justificação para chamar a si os homens que andavam pela serra em pequenas pilhagens sem qualquer significado político que não fosse o de, simplesmente, matarem a fome. E o momento chegou quando D. Miguel publicou a 21-3-1836 uma «Proclamação aos Portugueses» chamando-os a retornar à causa da Pátria e da Santa Religião.
Era o momento tão contidamente esperado. Decorridos mais de dois anos após a «Convenção» o Remechido voltava à luta armada, sob a bandeira realista. Reunindo um grupo de 45 homens atacou, a 19 de Julho de 1836, a vila de Ourique, de cujo presídio libertou onze dos seus sequazes, perante a estupefacção dos pacíficos habitantes, obrigados a ovacionar D. Miguel, sob pena de maior derramamento de sangue. Quatro dias depois atacou a aldeia de S. Bartolomeu de Messines, vingando-se das afrontas infligidas à sua família. Dessa acção de retaliação resultaram onze soldados mortos da Guarda Nacional, cujo quartel foi reduzido a escombros. A partir daqui a guerrilha do Remechido não mais parou de importunar as autoridades e as povoações menos acauteladas, contando por sucessos todas as intervenções que levou a cabo até final desse ano. Os ataques mais notáveis efectuaram-se contra as aldeias de Sabóia, Santa Clara-a-Velha, Salir, Benafim, Santana da Serra, Boliqueime, e S. Martinho das Amoreiras.
Para recompensar o famoso guerrilheiro e dar novo alento à reabilitação da causa absolutista, o exilado D. Miguel nomeava para Governador do Reino do Algarve e Comandante Interino das Operações do Sul, o seu fiel servidor José Joaquim de Sousa Reis, vulgo o Remechido, com a urgente incumbência de reorganizar os antigos regimentos de milícias e de proceder ao recrutamento de voluntários.
A situação tornara-se de extrema insegurança, sobretudo nas povoações do interior, que viam as suas Guardas Nacionais praticamente inermes e sem instrução militar, provocando a debandada para a cidade dos moradores mais abonados. O caso da vila de Sabóia era paradigmático. Consideravam que sem medidas enérgicas e de excepção o Remechido seria invencível, não só porque rapidamente transformava os humildes camponeses em perigosos guerrilheiros, como ainda de «Bibilia na mão lhes anda fasendo acreditar constar della que D.Miguel hade tornar a subir ao Throno, e que elle Remexido he guardado pelos Anjos, que o fasem invesivel quando passa pelos Liberaes».
Por outro lado, em Lisboa o sossego e a estabilidade política também nunca foram de molde a permitir que o governo pudesse interessar-se pela situação que se vivia nas províncias alentejana e algarvia. Daí as guerrilhas conseguirem manter-se com relativo desafogo, trazendo em sobressalto os habitantes do interior serrenho. No fundo, o único receio do governo era o de que os rebeldes Carlistas se aproximassem da fronteira e penetrassem no nosso território, fazendo a junção ibérica das forças contra-revolucionárias. Por isso, o tenente-coronel José Pedro Celestino Soares (que a 16 de Setembro substituíra Bernardo Zagalo no comando da 8ª Divisão Militar) optou por estabelecer uma espécie de cintura militar na junção da serra alentejana, entre Messines, Monchique e Loulé, com vista a impedir um ataque concertado e em força contra Faro.
Todavia, as forças Carlistas do general Miguel Gomez, que haviam ameaçado a Andaluzia, retiraram-se em Outubro de 1836, permitindo a transferência de efectivos da fronteira alentejana para os quartéis de São Bartolomeu de Messines e de Odemira, reforçando as defesas da zona leste algarvia, até então a mais afectada pelos guerrilhas. Um dos concelhos mais sacrificados foi o de Silves, cuja edilidade vendo a forma fácil e desimpedida como os rebeldes se movimentavam, solicitou à Rainha que se tomassem enérgicas e radicais medidas para exterminar aquela «perigosa cabilda». Por um lado, sugere ao Soberano Congresso que «declare a serra em estado de sítio», suspendendo todas as garantias e transferindo os habitantes fiéis para a cidade. Por outro, alvitra soluções radicais, nomeadamente «queimar parte da serra, estabelecer nella colunas volantes, guarnecer os povos que habitão as faldas, recolher os habitantes a povoações para que voluntários ou constrangidos não forneção alimentos aos guerrilheiros, retirar os gados, e formar uma guerrilha constitucional para perseguição daquella».
Nem todas estas propostas eram exequíveis, nomeadamente a incineração da serra, cujos matos, apesar de acoitarem os rebeldes, provocariam um desastre ecológico, para não falar já na perda dos montados que arrastaria para a miséria muitos proprietários. No entanto, as populações dos concelhos que se estendiam do litoral à serra estavam decididas a fazer justiça por mãos próprias se acaso o governo não tomasse medidas. Os habitantes da vila de Portimão diziam mesmo que não se podia transitar com os gados sem escolta nem visitar as propriedades dos subúrbios, sob pena de serem roubados e assassinados. E como estavam fartos da ineficiência da tropa e de obedecer cegamente às abúlicas autoridades, exigiam do Parlamento rápidas medidas de combate àquele flagelo, para que não tivessem de tomar em mãos a justiça que não lhes competia. Respondendo às prementes queixas dos povos e às exigências do Governador da 8ª Divisão Militar, sedeada em Faro, a Rainha mandou um Batalhão para o Algarve, com a exclusiva missão de perseguir e destroçar as forças do Remechido. Referia-se ao Batalhão de Infantaria 4 que se revelaria, com efeito, decisivo no combate às guerrilhas. Porém, não surtiu efeitos mais devastadores e imediatos, porque o Remechido teve prévio conhecimento da sua chegada, através da mala do correio que teve o ensejo de interceptar.
Receando o confronto aberto com as experimentadas tropas do governo, mais numerosas e melhor armadas, o Remechido optou pela estratégia da camuflagem, mandando dispersar os seus homens pelas terras e lugarejos de onde provinham, vestindo a pele de camponeses, trabalhadores rurais ou de pobres agricultores. Enquanto não recebessem ordens do seu chefe deveriam manter-se ordeiramente nos seus casais da serra, substituindo as armas pelas alfaias agrícolas. No entanto, a pressão exercida sobre os serrenhos deu como fruto a delação dos principais esconderijos e locais de reunião das guerrilhas que, apesar de escaparem sucessivamente ao apertado cerco das tropas, acabariam por sofrer significativas baixas. Essas acções de combate só não foram mais numerosas nem mais devastadoras porque a «Conspiração das Marnotas», ocorrida em Loures, e a «Revolta dos Marechais», no Verão de 1837, concentraram as forças governamentais junto da capital em lutas partidárias que degeneraram em sangrentos confrontos militares. No quadro da instabilidade política e da consequente transferência das forças militares do Algarve para o eixo dos conflitos, assistiu-se a um novo recrudescimento das guerrilhas miguelistas, não só nesta região como muito especialmente na Beira e no Minho. Praticamente até ao final de 1837 não tiveram as autoridades, nem as tropas governamentais, descanso no combate às insurreições populares que, aqui e ali, davam vivas a D. Miguel. Formando pequenos grupos armados, espalhavam a desordem nos campos e nas pacatas aldeias do interior. «A multiplicação das sublevações miguelistas permitiu que o bando do Remechido continuasse a operar com relativa tranquilidade, assaltando dez povoações de Novembro a Dezembro de 1837. Os ataques efectuados nesta fase revelam uma certa deslocação do eixo de operações para as proximidades do litoral ocidental do Algarve e Alentejo, onde acometeram localidades pouco guarnecidas como Aljezur, Alvalade, Porto Covo e Odeceixe.» Curiosamente, e depois de um arrojado ataque à vila de Grândola, o fulcro da guerrilha mudou de orientação, passando a actuar no nordeste algarvio, nas proximidades do Guadiana. Nesse final de 1837 atacaram as aldeias de Martim Longo e Santa Catarina, deixando a nítida sensação de apenas pretenderem aterrorizar as populações e de estenderem o seu domínio a toda a serra algarvia, cujos habitantes se viam compelidos a abastecê-los e até a pagar-lhes uma espécie de tributo de submissão.
Às constantes queixas das populações acresciam ainda os protestos dos deputados algarvios, como Júdice Samora que não entendia porque é que as tropas do governo, bem equipadas e armadas, se confinavam aos quartéis de Beja, Faro e Lagos, cujas populações não corriam quaisquer perigos, em vez de ocuparem posições estratégicas na serra para aniquilarem as guerrilhas. E se no tempo da usurpação causara espanto o facto de 7.500 bravos soldados terem batido um exército de 80 mil homens, como é que se justificava agora que «2.800 homens collocados em dous Districtos Administrativos não possam anniquilar uma guerrilha que só tem cento e tantos». Para lhe dar resposta e sossegar os povos da serra algarvia (cujas contribuições fiscais não satisfaziam por não poderem ali amanhar as suas terras nem pastar seus gados) o governo nomeou, em 15-12-1837, para o comando da 8ª Divisão Militar o coronel José Joaquim Gomes Fontoura, dando-lhe plenos poderes para o extermínio das forças miguelistas que infestavam a serra algarvia.
Um dos discricionários poderes de que vinha investido era precisamente o que lhe conferia a Carta de Lei de 19-12-1834, que lhe permitia condenar a degredo para África ou até a fuzilar, após o competente julgamento, todo e qualquer individuo suspeito que fosse apanhado com armas na mão. Manda a verdade, porém, acrescentar que o visconde de Sá da Bandeira, conhecedor experimentado da realidade algarvia, já tinha, em 16 de Maio, ordenado a todas as Divisões Militares que pusessem em prática as medidas de excepção contidas na supra citada lei. Não obstante, o Parlamento após discutir o fenómeno das guerrilhas, de se aperceber da sua extensão nacional e da ameaça que representava para a segurança do Estado continuar a alhear-se duma solução definitiva, revogou essa lei em favor de uma outra muito mais simples, mas também mais drástica, que ficaria conhecida pela lei de 4 de Março, que as autoridades publicaram em folha volante, espalhando-a por todas as aldeias e montes da serra algarvia.
Em todo o caso, a Câmara de Portimão achava que a publicação desta lei só por si não bastava, havia que tomar medidas mais concretas e acções mais eficientes para livrar o Algarve daquela cáfila de ladrões e assassinos que empestavam a serra, flagelando as suas gentes e impedindo o desenvolvimento da agricultura, da pastorícia e até do trato comercial, mercê da insegurança que grassava nas estradas.
Não obstante os poderes de que dispunha e a superioridade numérica das forças ao seu serviço, urgia resolver um problema crucial: o pagamento do pré em atraso a todos soldados. Sem cumprir essa obrigação não havia a mínima possibilidade de motivar a tropa a bater-se corajosamente contra os rebeldes. A este problema acrescia um outro, não menos crítico do que o anterior, que era o do fardamento da tropa, cuja falta de renovação deixara os soldados numa posição quase andrajosa. Para além disso, o cor. Fontoura propunha-se agir rapidamente na fortificação de pontos estratégicos na serra, na organização de depósitos de víveres e no estabelecimento de um hospital de campanha em Loulé, para assistir aos feridos que viessem transferidos da serra. Mas, para que tudo fosse solucionado com a maior urgência faltavam os meios financeiros. E neste caso o cor. Fontoura não teve pejo em lançar mão dos seus poderes despóticos. Exigiu dos algarvios a concessão de um empréstimo forçado no valor de vinte e cinco contos, que obteve mediante a promessa de limpar a serra da perigosa cabilda do Remechido, dos Baioas e do Marçal Espada. O Administrador Geral do Distrito de Faro, resumiu o evoluir das exigências legais e das faculdades administrativas ao seu dispor tendentes ao financiamento das tropas, nos seguintes termos:
Em 20 [de Janeiro de 1838] ordenou a mesma Aucthoridade [com.te Fontoura] aos Contadores de Fazenda dos Districtos de Faro, Beja e Evora que pozessem á dispozição do Pagador da 8ª Divizão Militar todos os dinheiros existentes nos Cofres das suas respectivas Contadorias, afim de se pagar os prets e Soldos ás Tropas da mesma Divizão que se achavão em grande atrazo; tudo pela Authorização consignada na Portaria do Ministerio da Guerra de 13 de Janeiro ultimo.
Em 28 ordenou o mesmo Chefe Superior, que se convocasse hum Conselho das Authoridades e Capitalistas desta Cidade e Districto para deliberarem sobre o modo de realizar por meio de hum emprestimo, a quantia de 25.000$000 rs. para o pagamento das tropas, cujo resultado tive a honra de communicar a V.Excª em o meu Officio nº 53 de 3 de Fevereiro corrente. Eis aqui qual o uso dos poderes extraordinarios conferidos pela citada Ley aos Delegados do Governo de S.M. neste Districto Administrativo em todo o periodo acima marcado.
Como o inimigo gozava do apoio dos "serrenhos", o cor. Fontoura mandou publicar em 2-5-1838 um Edital em que ordenava a evacuação de todos os montes da serra algarvia e alentejana, obrigando os seus habitantes a recolherem-se às cidades, vilas e aldeias mais próximas, trazendo consigo os gados e mantimentos necessários à sua sobrevivência, deixando cerradas as suas residências para que delas não se aproveitassem os rebeldes. Para que se protegessem os fiéis à Rainha e se os destrinçassem dos rebeldes miguelistas, mandou emitir um «Passaporte de Seguridade» a todos os maiores de quinze anos, por forma a que sendo apanhados fora das povoações não fossem passados pelas armas. Era o tempo dos atrabiliários interrogatórios de «quem vive e quem manda».
A estratégia, discricionária, violenta e abusiva, acabaria por dar os seus almejados frutos, mercê de uma disciplina férrea e de uma persistência inquebrantável. Nada foi deixado ao acaso. As ordens eram terminantes: a guerrilha não poderia dispor do mais pequeno apoio material ou logístico. A serra onde antes dominavam os sublevados, estava agora sob forte vigilância e controlo de doze divisões militares, fortemente armadas e dispostas a aniquilar toda e qualquer oposição. Tudo foi vasculhado, mandando-se recolher à cidade de Silves todas as alfaias que pudessem ser usadas como armas, nomeadamente as foices, roçadoiras, machados e espetos. Por outro lado, os ferreiros e sobretudo os ferradores foram obrigados a recolher-se às guarnições militares, para que não prestassem qualquer apoio à cavalaria rebelde.
Perante isto o Remechido decidiu-se, novamente, pela dispersão das suas forças, camuflando-as no seio das populações a que pertenciam, até que as perseguições cessassem. Por isso diminuíram consideravelmente os ataques das guerrilhas, que apenas se fizeram sentir em Vila Nova de Mil Fontes, Moncarapacho e Santiago do Escoural. Os alvos preferenciais dos guerrilhas eram geralmente os clérigos comprometidos com o novo regime, as quintas de lavradores abastados e os estancos do tabaco, cuja fluidez em metal sonante tornava-os bastante cobiçados. Em todo o caso, os rendimentos das pilhagens e os apoios financeiros, obtidos interna ou externamente, eram cada vez mais escassos. Disso resultavam deserções, falta de abastecimentos e condições de manutenção das forças militarizadas, evidenciando-se, assim, um irreversível processo de enfraquecimento das hostes rebeldes.
O pânico instalado junto das populações pela divulgação dos Editais de repressão, emanados pelas autoridades governativas, quebrara os elos de cooperação com os rebeldes, a ponto destes se debaterem com falta de víveres e escassez de meios financeiros para pagamento do pré e aquisição de cartuchame. E só não acabou ali o "império da guerrilha" porque, mais uma vez, as contingências políticas vividas na capital alteraram a marcha dos acontecimentos no Algarve. As lutas pelo poder no seio do partido setembrista, entre os oficiais radicais da Guarda Nacional e os moderados chefiados por Sá da Bandeira, originaram o sangrento «massacre do Rossio» e, consequentemente, a dissolução da Guarda. Esta imprevisível decisão do governo provocaria nas guarnições do Sul uma desmobilização dos efectivos militares avaliada em 1300 homens.
As guerrilhas poderiam ter suspirado de alívio se as contingências do destino, desta vez, não se tivessem virado para o lado do mais forte. Com efeito, no dia 28 de Julho, delataram a presença do Remechido à frente de uma força de 248 homens no sítio da Portela da Corte das Velhas. O Coronel Fontoura ordenou logo que, em marchas forçadas, a 1ª Coluna, comandada pelo Major José Ignacio de Vasconcelos, partisse de Almodôvar em direcção às Cortes Velhas, onde deveria aguardar pela 5.ª Coluna, chefiada pelo Cap. Manuel Maria Cabral, que partira de S. Martinho das Amoreiras; a estas iriam ainda juntar-se as 3ª e 6ª Colunas, conduzidas, respectivamente, pelo Cap. Joaquim Mendes Neutel e Major João Nunes Cardoso, ambas vindas de São Bartolomeu de Messines. A numerosa força, deste modo reunida, tornava-se imbatível, perante as escassas duas centenas de homens de que dispunham os rebeldes. Ciosos da oportunidade de capturar o mais cobiçado de todos os troféus, marcharam rapidamente até ao sítio do Monte do Grou, nas proximidades de S. Marcos da Serra, onde cercaram o inimigo.
Sentindo-se acossados desfecharam forte descarga de fuzilaria sobre as tropas constitucionais, que iam sendo colhidas de surpresa. Estabeleceu-se então cerrado tiroteio, mas a diferença de efectivos deixava em desvantagem as guerrilhas. Face ao desequilibrado poder de fogo e às dificuldades de furar o cerco, os rebeldes viram cair 56 dos seus homens, após o que iniciaram uma desordenada retirada. Para trás ficou o Remechido a descoberto e à vista da tropa que logo o identificou. Após tenaz perseguição do capitão Cabral foi o comandante da guerrilha desarmado e aprisionado. Levaram-no para Faro, onde foi julgado em Conselho de Guerra, no dia 1 de Agosto, no salão nobre da Misericórdia, que o condenou à pena capital. Para que não restassem dúvidas de que se tratava da execução do celerado guerrilheiro, ordenou o Administrador Geral «que de cada freguezia da serra viessem seis homens com cada Regedor de Parochia assistir a execução do malvado afim de que por este modo se tome atestamento inegavel».
No dia seguinte, pelas dezoito horas no Campo da Trindade (actual Jardim João de Deus, vulgo Jardim da Alameda) foi fuzilado, e de imediato sepultado no cemitério da Misericórdia.
A sua presença de espírito perante o tribunal que o condenou; a forma serena, íntegra e respeitosa como recebeu os últimos sacramentos; as últimas palavras que por escrito dirigiu ao filho no sentido de procurar, no indulto que a lei lhe oferecia, a paz que ele próprio nunca desfrutara, são pormenores que revelam a superior personalidade de um homem honrado, fiel às suas convicções e juramentos. Uma análise minuciosa das declarações proferidas durante o julgamento permitem perceber que o Remechido não era o ferino bandoleiro que o governo propagandeava aos quatro ventos. Bem pelo contrário, era um chefe militar de arreigados princípios políticos e razoável instrução, profundamente crente na superioridade da fé católica, pela qual também se bateu de armas na mão. Carecem de qualquer fundamento as descrições físicas que faziam dele um ímpio assassino, façanhudo e de porte selvagem. Era em tudo um homem normal, com a singular diferença de se mostrar inabalável nas convicções políticas e religiosas, não admitindo, nem mesmo perante os seus algozes, a mais pequena tibieza na sua coerência.
Qualquer que seja o prisma com que observemos as posições políticas e as atitudes militares sustentadas por este homem, não restam dúvidas que sempre se manteve fiel e igual a si próprio e ao trono que jurou fidelidade. Apesar de todos os crimes de que foi acusado, soube sempre manter, tanto no passado como no presente, a aura de um mítico lutador que pelos seus débeis meios tentou chegar à altura dos seus adversários. Seja como for, de uma coisa temos a certeza é que o Remechido foi, após a «Convenção», o único rosto credível da contra-revolução e, certamente, o seu mais valoroso chefe político no território português. Por isso é que com o seu fuzilamento morreu também a causa miguelista. As esporádicas escaramuças dos Baioas ou até do seu próprio filho já quase não tinham sentido. Os serrenhos depressa perceberam que sem o seu chefe carismático não havia possibilidades de manterem de pé a bandeira do absolutismo. Tudo se desmoronara naquele pelotão de fuzilamento.
Os que persistiram em honrar a sua memória não lhe sobreviveram por muito tempo. O filho, Manuel da Graça Reis, herdou a difícil tarefa de manter a guerrilha unida e em redobrada actividade, o que, apesar dos ataques que realizou nas freguesias do Cercal, Santa Luzia, Giões, Martim Longo e Azinhal, não foram suficiente para granjear das populações serrenhas a aura de prestígio e respeito ostentada pelo pai. Um ano depois da morte do Remechido, as antigas guerrilhas da serra transformaram-se em pequenos grupos de ladrões, salteadores de estradas e bandoleiros esfaimados, sem bandeiras, sem ideais, apenas com a vida a prazo. O coronel José Joaquim Gomes Fontoura, que impôs uma estratégia de implacável rigor na perseguição aos rebeldes, não deixou, porém, de ser apaziguador e magnânimo para com todos aqueles que depusessem as armas, amnistiando-os dos crimes que lhes eram imputados e mandando-os de regresso aos seus lares. Com esta política capitulacionista enfraqueceu a coesão e ferocidade do inimigo, cujos lideres foram sucessivamente abatidos pelas tropas governamentais em ataques ou emboscadas. Além disso, o desequilíbrio das forças era abissal, pois enquanto as guerrilhas dispunham de apenas 400 homens, as forças liberais compunham-se de 2541 soldados de infantaria, 292 cavaleiros e 1471 homens alistados nos Corpos Nacionais.
Perante esta situação militar o desfecho dos acontecimentos só poderia ser desfavorável aos rebeldes. Manuel da Graça Reis que havia sido ferido no ataque ao Azinhal, foi visto em Vaqueiros, nos montes de Martim Longo e de Almodôvar, a ser transportado pelos seus homens encima de uns sacos de palha, arrastando-se ferido de morte. Essa via sacra terminaria a 10-11-1839, nas imediações da fatídica freguesia do Azinhal, onde, quase moribundo, seria detido e transferido para o Hospital de Faro, acabando por falecer um mês depois. O Padre Marçal José Espada, que se arvorava de ter sido o secretário particular do Remechido e um dos seus mais violentos sicários, foi abatido a tiro, em Dezembro de 1839, na serra do Malhão. E em 1840, junto a Mértola, foram "caçados" os últimos cabecilhas da guerrilhas miguelistas: Alferes Ventura, Silvestre Joaquim Cabrita e Joaquim Nogueira Camacho. Pode-se dizer que a partir desse ano deixou de existir uma oposição armada ao novo regime, sendo considerados literalmente exterminados os bandos de rebeldes que infestavam a serra algarvia.
Não pode a memória dos homens ficar indiferente ao fenómeno da luta de guerrilhas no Algarve, e muito menos poderá deixar de realçar, a carismática figura do Remechido, que foi, sem sombra de dúvidas, a pedra angular da contra-revolução miguelista nas províncias do Sul. E em toda a sua envolvência, popular, feroz, generosa ou sebastiânica, sobressalta a personalidade de um homem de fortes convicções políticas, que se tornou no único mito que ainda hoje povoa o legendário das gentes algarvias.

terça-feira, novembro 21

Nova Árvore Genealógica





Saudações!
Graças ao gentil contributo de Teresa Paúl, trisneta de José Reis, temos agora uma versão mais recente da árvore genealógica do Remechido. Obrigado Teresa!
Como de costume, está dísponivel através dos nossos e-mails
zrbtn@hotmail.com e osfilhosdoremexido@blogspot.com

quarta-feira, novembro 15

Painéis do Arquivo de Lagoa







Estes paineis informativos fazem parte da exposição Remexido, iniciativa do Arquivo de Lagoa, que já teve lugar em Lagoa e Monchique, e terá lugar em Dezembro em Loulé.
Foi-nos gentilmente cedido, pela Dra. Barbara Ribeiro, coordenadora do Arquivo Municipal de Lagoa.
Se quiserem as versões de alta qualidade, façam como de costume, através dos mails osfilhosdoremexido@sapo.pt ou zrbtn@hotmail.com

sábado, novembro 4

O Guerrilheiro (Hino ao Remexido?)




Gentilmente cedido por Sérgio Brito, este "Hino ao Guerrilheiro", supostamente inspirado na vida de José Reis, vem editado no "Cancioneiro de Músicas Populares", de César das Neves & Gualdino de Campos - Typographia Ocidental -PORTO - 1893

Como sempre, temos disponível uma versão maior e com mais qualidade para impressão, estando como de costume disponível através do nosso e-mail.

sexta-feira, novembro 3

Soneto de José reis


Saudações!
Este soneto, supostamente da autoria de José Reis, consta na célebre "Biographia de Remexido", publicação datada de 1838 (no mesmo ano do fuzilamente de José reis), cujo autor ainda desconhecemos.
José Reis terá escrito este poema, aquando da fuga de seu filho primogénito, quando se evadiu da cadeia e se lhe foi reunir.
Escusado será dizer que recomenda-se vivamente a leitura deste livro, que ainda não encontrámos senão em fotocópias, mas que disponibilizamos como sempre fazemos.
Aproveito para apelar a todos quantos tenham obras já digitalizadas, que partilhem connosco.
Muito obrigado



"Bem vindo sejas a meus braços filho!
Saudoso coração já lhe custava
Um dia, e outro dia que alongava
Tua vinda qualquer novo empecilho.

Cessáram em fim, - quanto eu me maravilho!
Por que nunca acabassem receava,
Que a tal desconfiança me levava
Dos males meus o costumado trilho!

Bem vindo sejas pois! Ainda não o creio!
Que tanto bem me fosse concedido,
De mil pezares que me cercam em meio.

E pois que para tal foste nascido
Vem ser d'um triste pae arrimo e esteio,
Qual fora o Tenero seductor de Dido."

quarta-feira, novembro 1

[Genealogia] Nova árvore Genealógica de José Reis


Saudações!

Com o contributo de Liliana Sousa, aluna da UALG, temos agora novas informações e uma árvore genealógica mais completa. Obrigado Liliana.

Para aceder a esta nova árvore, façam como de costume, através de osfilhosdoremexido@sapo.pt


Aproveito agora para solicitar colaboração a todos os alunos e alunas que nos pediram colaboração; enviem-nos uma cópia dos vossos trabalhos, de forma a que mais pessoas lhes tenham acesso. juntos podemos imortalizar a memória do passado recente que nos é comum...

Obrigado

terça-feira, outubro 31

Exposição e Conferência sobre "O Remexido" em Loulé


As Câmaras Municipais de Loulé e Lagoa estabeleceram um protocolo para apresentação da Exposição “Remexido”, a ter lugar na Galeria de Arte do Convento Espírito Santo, de 5 a 30 de Dezembro.
Esta iniciativa pretende dar a conhecer a vida de José Joaquim de Sousa Reis, mais conhecido por “Remexido” na história do século XIX no Algarve, período marcado pelas lutas liberais, onde este se insere como defensor da causa miguelista.
A exposição exibe novas informações relativas à passagem do mesmo pela localidade de Loulé, através de documentos do Arquivo Municipal e outras informações existentes no Centro de Documentação.
A inauguração da exposição terá lugar no dia 5 de Dezembro, pelas 18h00, seguindo-se a conferência “O Remexido e a Resistência Miguelista no Algarve”, proferida por José Carlos Vilhena Mesquita, da Universidade do Algarve.
Durante o período em que estiver patente ao público, a exposição será dinamizada pelos Serviços Educativos da Divisão de Cultura e História Local, com visitas guiadas para o público em geral e com actividades direccionadas para o público escolar.
Nascido em Estômbar a 19 de Outubro de 1797, José Joaquim de Sousa Reis casou-se em S. Bartolomeu de Messines. Deve-se, aliás, ao seu casamento, o nome por que ficou conhecido, já que se rebelou (remexeu) contra o seu tutor, que lhe proibia o casamento. Era um homem de posses, capitão de ordenanças, além de exercer a função de recebedor do Concelho.
Servindo D. Miguel, derrotou, em conjunto com o general Tomás Cabreira, o famoso Sá da Bandeira, na Batalha de Sant’ Ana. Quando o primeiro Duque da Terceira tomou conta do Algarve, o “Remexido” escondeu-se na serra algarvia, onde, recorrendo a uma táctica de guerrilha e apoiado por serranos, venceu sistematicamente as tropas governamentais.
Diversos crimes foram cometidos em seu nome e rapidamente se tornou uma lenda de temor que se espalhou até ao Alentejo. Contudo, estudos recentes parecem ilibá-lo de tais crimes e acções ignominiosas. De facto, queimaram-lhe a casa, açoitaram-lhe publicamente a mulher por não revelar onde ele se encontrava escondido e, por fim, mataram-lhe um filho de 14 anos. Revoltado contra tal crueldade, vingou-se como podia e jamais se entregou, mantendo a sua acção de guerrilha mesmo depois da Convenção de Évora Monte. Procurava castigar os que os perseguiam, mas perdoava aos soldados que lhe caíam nas mãos, porque desempenhavam um serviço que eram obrigados a fazer. Por fim, foi capturado, levado a Conselho de Guerra e fuzilado em Faro, a 2 de Agosto de 1838. Julgado por um Conselho pouco simpatizante da "causa miguelista", e mesmo tendo-lhe a Rainha D. Maria II concedido o perdão, tal ordem não foi cumprida e fuzilaram-no por interesses políticos e pessoais.


Link original, aqui http://www.cm-loule.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1853

domingo, outubro 29

Mapa


Este Mapa de actividades da Guerrilha Realista foi-nos gentilmente cedido, pela Dra. Barbara Ribeiro, coordenadora do Arquivo Municipal de Lagoa.

Se quiserem a versão de alta qualidade com 2666 x 1111 pixels, façam como de costume, através do mail
osfilhosdoremexido@sapo.pt

Cronograma do Remexido e Politica Nacional

Este Cronograma, que já dispensa apresentações, é parte integrante da exposição Remexido, assim como da publicação com o mesmo nome, iniciativa do Arquivo de Lagoa.
Foi-nos gentilmente cedido, assim como mais material que vamos aqui disponibilizar, pela Dra. Barbara Ribeiro, coordenadora do Arquivo Municipal de Lagoa.

Se pretenderem receber a versão de alta qualidade com 831 x 2532 pixels, façam como de costume e solicitem para o mail osfilhosdoremexido@sapo.pt.


segunda-feira, abril 24

[Património] - Rua do Remechido, S.Bartolomeu de Messines





Rua do Remechido - São Bartolomeu de Messines

quarta-feira, abril 19

[Livros] - Memórias dos desatrosos acontecimentos de Albufeira


Este pequeno, grande livro, é no fundo um relato, na primeira pessoa, de um dos episódios mais sangrentos da História recente do Algarve. O cerco e invasão a Albufeira, por parte de Guerrilheiros Miguelistas, em Julho de 1833.

Aqui fica parte do prefácio:

"Com a reedição do texto que se segue, a que até agora só tinham acesso os investigadores que se debruçam sobre a rica, complexa e assaz fascinante primeira metade do séc XIX, tão importante na construção do Portugal Contemporâneo, tem o leitor a possibilidade de colher o testemunho de acontecimentos que - se bem que localizados no tempo e no espaço - evidenciam toda a dimensão e a violência dos antagonismos que então opuseram Portugueses, estratos sociais, visões do mundo, projectos politicos e culturais.
Como é explicado nas notas introdutórias que mantivemos da primeira edição (Lagos, Tipografia Lacobrigense, 1873), o autor desta Memória teria sido Francisco António da Silva Cabrita, eclesiástico e personagem influente de Albufeira, que, em Julho de 1833, isto é, em plena guerra civil que ensaguentava o País, se veria chamado a desempenhar um papel central aquando do assalto e ocupação por Guerrilhas Miguelistas.
De assinalar, desde logo, que não tendo nós acesso ao manuscrito - cujo paradeiro desconhecemos - não se pôde detectar até que ponto o diligente editor da versão que em 1873 foi dada à estampa, alterou o original, movido pela preocupação de não "ferir susceptibilidades de pessoas" que ainda existiam nessa altura, protagonistas dos eventos descritos ou seus descendentes...()"
Fernando Pereira Marques
Título: Memória dos Desastrosos Acontecimentos de Albufeira
Autor: Francisco António da Silva Cabrita
Edição Original: Lagos - Tipografia Lacobrigense, 1873
Reedição: Publicações Alfa, S.A., Lisboa 1990
Prefácio e notas: Fernando Pereira Marques

segunda-feira, abril 17

O Projecto Remexido - Feedback

Saudações a todos os internautas/pesquisadores ou curiosos da História do Algarve e Portugal:

O Projecto Remexido está de parabéns, o feedback que temos recebido motiva-nos mais e mais, cada dia que passa. Temos sido contactados permanentemente por estudantes, pais de alunos, descendentes de José Reis, e meros curiosos, que como nós, não se contentam com o que a História oficial nos ensina. Temos disponibilizado materiais e colaborado no que podemos, e sempre que podemos.
Nunca esperámos tanta afluência em tão curto espaço de tempo, e pouco temos feito no que toca á divulgação do projecto.
Não é novidade para ninguém que a História pende frequentemente para o lado do mais forte, do vencedor, e como alguém disse uma dia, "não existem factos, mas sim, interpretação de factos"....
Se és estudante, historiador, autodidacta (como o vosso anfitrião) devemos todos trabalhar, juntos, para a dignificação da memória de alguém, que independentemente da posição política/ideológica que tomou, manteve sempre a perspectiva do povo, e desde cedo, trabalhou com a comunidade, na comunidade; e quando o sistema e a região em que vivia foi "atacado" por ideais liberais/maçónicos, nomeadamente pilhagens e destruição de património da "Santa Igreja"; e respondendo ao apelo de D.Miguel, na célebre Proclamação, José Reis, o Remexido ergueu armas e manteve a guerra acesa por todo o Sul de Portugal, durante anos, organizando emboscadas aos correios e malapostas, atacando povoações e mesmo ás principais cidades, então bem guarnecidas e defendidas permanentemente por soldados fiéis á Rainha. É de salientar o apoio popular de que os Guerrilheiros do Remexido e do Camacho dispunham na Serra Algarvia, e, "como refere Raul Brandão, nos finais do século XIX, nas famílias rurais do Algarve, o retrato do Remexido ainda estava pendurado, ao lado, aliás, do de João de Deus."
E já estava a fugir ao assunto (parece que é de família)…
Começamos a sentir que a memória colectiva não se satisfaz com os ensinamentos oficiais, e queremos agora (e é o objectivo deste balanço trimestral) solicitar-vos nós, apoio.
A todos os que tenham informações sobre este período tão conturbado da história Algarvia e nacional, por favor continuem a colaborar connosco, enviando-nos dados, links, nomes a completar na árvores genealógica, imagens, referências bibliográficas, enfim, tudo o que considerem relevante e que possa preencher mais e melhor, os conteúdos deste site.
Juntos, podemos desmistificar José Reis e as guerrilhas do Sul, e criar na Internet, um espaço que possa ser utilizado por todos aqueles, que nos anos vindouros, necessitem pesquisar e ter acesso a informação, e poderem tirar as suas próprias conclusões.
Informamos, que está para breve a aquisição de um site.org, o qual passará a ser o portal do remexido/remechido. Já obtivemos um pequeno patrocínio para a compra do website, que a médio prazo apresentaremos aqui no Homem da Serra.

Aqui ficam os nossos sinceros agradecimentos e todos os leitores e visitantes. Muito obrigado e continuem a colaborar neste projecto, que também é vosso.


zrbtn@hotmail.com
Mamede

sexta-feira, abril 14

"O nosso último dever com a história é voltar a escrevê-la."

Oscar Wilde, in "Citações"



quarta-feira, abril 5

[Livros] - A Guerrilha do Remexido, de António do Canto Machado e António Monteiro Cardoso


Esta é sem dúvida, a melhor publicação sobre o Remexido que encontrámos até hoje.
Contém gráficos, mapas, um apêndice documental de 200 páginas e ainda referências bibliográficas suficientes para esclarecer quem esteja agora a debruçar-se sobre o período mais fascinante da História recente do Algarve.




"A figura de José Joaquim de Sousa Reis, conhecido pela alcunha de Remexido, suscitou grande repercussão, merecendo abundantes referências jornalisticas, literárias e históricas, que primam na quase totalidade pelo seu pendor apaixonado.
Encarado por uns como herói romântico, que tudo sacrificou ao serviço da causa de D.Miguel, foi por outros considerado como chefe cruel de bandos de salteadores, que desde 1833 ensaguentaram o Algarve com as suas atrocidades.
Atraído pelas dramáticas vicissitudes da sua vida, também Camilo lhe dedicou algumas páginas num dos seus mais notáveis romances, A Brasileira de Prazins.
A presente obra debruça-se, de forma empolgante, sobre uma das mais combativas guerrilhas Miguelistas, abrindo clareiras de luz no nevoeiro espesso que ainda envolve a nossa História do século passado."

In "A Guerrilha do Remexido"


Aqui ficam detalhes que dão uma visão geral sobre este livro, assim como o link para o comprar, online.



Titulo: A Guerrilha do Remexido
Autores: António do Canto Machado e António Monteiro Cardoso
Editora: Europa América (estudos e Documentos nº175)




- Índice -
Cap1 - A luta civil no Algarve (1826-1834)
  1. O levantamento Absolutista de 1826
  2. A revolta liberal de 1828 ( a atitude da burguesia e a reacção popular)
  3. As operações militares de 1833-1834 (a guerra dos camponeses contra as cidades)

Cap2 - Origens da reactivação das guerrilhas Miguelistas

Cap3 - A guerrilha Miguelista do sul do país (1836-1840)

  1. A recativação da luta sobre o comando do Remexido
  2. A ofensiva de 1838
  3. Colapso e bandoleirização da guerrilha

Cap4 - Composição social da guerrilha

Cap5 - Organização da guerrilha

Cap6 - Objectivos de luta

Apêndice Documental

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Link para comprar este livro (á cobrança por ctt)

http://www.somlivre.pt/loja/viewItem.asp?idProduct=117931

Algumas Imagens de José Reis





segunda-feira, abril 3

O Projecto Remexido


Esta iniciativa, que pouco a pouco vai dando os seus frutos, prima-se pela divulgação e acesso a informação que imortalize os acontecimentos, que marcaram Portugal do séc.19.

Se de nós parte esta iniciativa, sem vós não seria possivel.

Se tiver alguma informação que possa acrescentar á existente neste website, se pode completar referência em falta (livros, documentos), ou se é descendente de José Reis, comunique connosco e colabore.

De momento estas são as 4 actividades que desenvolvemos e apoiamos:


  • Árvore Genealógica de José Joaquim de Sousa Reis;
  • Base de dados virtual de referências a José Reis;
  • Investigação para um documentário sobre a vida do Caudilho;
  • Pesquisa e revisão das informações existentes na internet;

Se acha que pode colaborar em algumas destas actividades, mande-nos um mail para osfilhosdoremexido@sapo.pt

Obrigado

[Livros] - Um trono para dois irmãos



Temos recebido bastantes e-mails de estudantes e pais de alunos, que nos pedem ajuda para trabalhos escolares, pois a internet escasseia de informação sobre José Reis, o Remexido.

Colaboramos sempre que podemos, pois este é o objectivo principal deste projecto.

Esta publicação (cuja colecção dispensa apresentações), é destinada aos mais jovens, e pode ser uma "iniciação", ao estudo dos acontecimentos que tanto marcaram o Algarve e Portugal.

Obrigado a todos...e...continuem a colaborar!




Um Trono para Dois Irmãos
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Ilustrações de Arlindo Fagundes
Editorial Caminho

Colecção «Viagens no Tempo», n.º 11220 pp.
Preço: 8,40

Resumo/apresentação:
Os príncipes D. Pedro e D. Miguel são irmãos e disputam o trono de Portugal.
A cidade do Porto é fiel a D. Pedro mas encontra-se cercada pelas tropas de D. Miguel. Ninguém entra, ninguém sai, as lutas prolongam-se sem vencidos nem vencedores. E a morte espreita mesmo fora dos campos de batalha porque faltam mantimentos.
Em certas zonas já há quem coma ratos e outros bichos nojentos. No entanto, os homens não se rendem.
Ana, Orlando e João caem da máquina do tempo numa zona onde a guerra está ao rubro... Para escapar às balas juntam-se a um médico que anda a recolher feridos na sua charrete. Assim, são obrigadas a tomar partido.


Link para a página original e compra online do livro:
http://www.uma-aventura.pt/bibliografia/fichalivro/viagens_11.htm


Excerto do livro: «De cólera continuou a morrer muita gente, mas por incrível que pareça, os que pernoitaram no convento salvaram-se quase todos! Outro perigo espreitava, porém, nos esconderijos da serra. — Temos que ter cuidado — advertiram os capitães. — Anda por aí um bando perigosíssimo que ataca pela calada da noite. Fazem verdadeiras razias e depois desaparecem sem deixar rasto. O chefe é um tal Remexido. Nas aldeias basta ouvirem-lhe o nome para se irem fechar em casa a tremer de medo. — Sabe o que me contaram do Remexido, capitão? Dizem que pode estar três dias e três noites sem comida de gente. Não perde a força porque mastiga umas certas raízes que só ele conhece. — Isso fazia-nos jeito para rações de combate — brincou o capitão. — Se o encontrarmos havemos de o convencer a revelar o segredo. — Nem a tiro. O Remexido é fanático por D. Miguel. Até lhe digo mais. Se por azar o tipo anda aí à espreita e vê as nossas fitas azuis e brancas, estamos fritos. — Tens medo? — Falei só para a gente se precaver. Não tenho medo nenhum. O movimento da cabeça e os olhares furtivos na direcção das moitas mais cerradas indicavam que mentia, o que neste caso só lhe ficava bem. Um soldado não pode dar parte de fraco, senão perde a coragem e desanima os companheiros. Não era no entanto de espantar que ele e os outros percorressem os caminhos íngremes da serra algarvia com receio de serem surpreendidos pelo bando do Remexido. Havia quem dissesse que eram só vinte ou trinta, mas também havia quem garantisse que eram mais de mil. E contava-se que faziam verdadeiras loucuras! Cada restolhada punha-os em sobressalto, o mínimo ruído parecia-lhes suspeito.»

(in Um Trono para Dois Irmãos, pp. 117-118)



sexta-feira, março 31

[Livros com pó] As Armas de Remechido, evocadoras do valoroso e nobre defensor da realeza de D. Miguel I no Algarve

Esta pequena publicação, datada de 1945, é assinada por Alberto Iria, e foi encontrada na biblioteca Municipal de Faro. Temos uma versão deste documento em jpg de alta resolução 2.93mg (alta qualidade), que podemos enviar a quem pretenda consultar esta publicação.

Para quem ainda não conhece a vida e obra de Alberto Iria, aqui está um link interessante:
http://www.olhao.web.pt/Personalidades/alberto_iria.htm




As Armas de Remechido, evocadoras do valoroso e nobre defensor da realeza de D. Miguel I no Algarve
Alberto Iria
Lisboa 1945
5 pgs

Encontrado na Biblioteca Municipal de Faro
Fev 2006

quinta-feira, fevereiro 16

A paixão de Évora-Monte, de Hipólito Raposo


Este é um texto, que descreve a viagem de D.Miguel para Sines, onde embarcou rumo ao exílio na Áustria. Talvez seja um pouco parcial e romanceado, mas no geral descreve a pormenor os últimos episódios da presença de D. Miguel em Portugal. Faz ainda referência ao nosso conterrâneo, José Reis. Aqui fica o atalho, pois o texto é demasiado grande para o postar aqui.

Relembro que o principal objectivo deste site é divulgar informação e acesso às mesmas.

Obrigado..



Link para " A Paixão de Évora-Monte", de Hipólito Raposo, aqui

[Livros] - Monografia do Concelho de S.Bartolomeu de Messines

Escrita por Ataíde Oliveira e publicada pela primeira vez em 1909. Nela podemos encontrar, entre outros, dados relativos à história, património e características das gentes do concelho.
O motivo que nos leva a referenciá-lo é a descrição do período compreendido entre 1833 e 36.
entre outros, referenciamos:

  • Ataques dos Guerrilheiros Miguelista a Messines;
  • As perseguições aos "defensores da Santa religião" após a convenção de ÉvoraMonte;
  • O regresso da guerrilha;
  • A captura de Remechido;
  • O julgamento e os argumentos;
  • Remechido e Neutel;

Monografia de Sº Bartolomeu de Messines
Ataide Oliveira
Algarve em Foco 1987 - Faro
Disponivel em Livarias ou Alfarrabistas (actualize esta informação através do nosso mail)



Este texto foi encontrado na web, é extraido da Monografia de Sº Bartolomeu de Messines:

"O período mais dramático da história de S. Bartolomeu de Messines ocorreu durante as lutas liberais. Atente-se na descrição que Ataíde Oliveira faz, na sua obra Monografia de S. Bartolomeu de Messines. “Os habitantes de Messines sofreram então terriveis violencias e agruras. Soffreram agruras e violencias dos ligitimestas com as suas continuas requisições e com ameaças de mortte; soffreram violencias e agruras dos liberaes sob pretexto de que elles auxiliavam os guerrilhas e os favoreciam. De mal com os liberraes por causa dos legitimistas; de mal com estes pelo amôr aos liberaes! (...) Entraram os guerrilhas, commandados por José Joaquim de Sousa Reis – o Remechido -, pela priemira vez, na manhã do dia 19 de Julho de 1833, em S. Bartholomeu de Messines, que então se achava defendido por uma força composta de 45 homens da Guarda Civica. Estes homens em vez de se acharem reunidos em um logar fortificado, estavam aboletados por diversas casas de particulares. Não podendo reunir a tempo quando a povoação foi invadida, não fizeram séria resistencia. Por isso, neste dia, começou a escrever-se a folhinha do martirologio desta povoação. Entre os primeiros que cairam às balas dos guerrilhas contam-se o capitão Manoel Affonso e sua filha, que, para defender o pai, a este se abraçou, sendo ambos travessados pelas mesmas balas.(...) Foi relativamente longo o periodo decorrido até à Convenção de Èvora Monte e em todo elle esteve esta freguesia sob acção dos guerrilhas, que quasi sempre aqui pairaram, principalmente na serra.” O eminente estudioso Silva Lopes na sua Corografia do Reino do Algarve escreve, sobre o famoso combate de Sant’Anna: “Pouco ao Norte de S. Bartholomeu de Messines, fica a ermida de Sant’Anna, perto da qual se deu a desastrosa acção de 24 de Abril de 1834 contra as tropas rebeldes com muitos paizanos armados e commandados por Thomaz Cabreira, não chegando os Constitucionaes a 1400: nella tiveram estes que sentir aperda de muitos bravos, posto que a dos rebeldes fosse maior”. Segue Ataíde Oliveira dizendo: “Neste combate se filiam os odios dos liberaes contra Cabreira e contra Remechido; áquelle por ser o commandante em chefe dos guerrilhas; a este por ser o auctor do plano do combate e talvez a alma da victoria. Daquelle vingaram-se os liberaes, assassinando-o na cadeia de Faro; deste tiraram vingança em um processo, cujas formulas estão em desharmonia com as leis da guerra, pois que em vez de se formular o libello accusatorio, indicando artigo por artigo os crimes de que o réo era accusado, disso não se fez caso, levantando-se em publica audiencia um dos seus vogaes a perguntar ao réo quaes eram os crimes de que elle era accusado. De modo que era o réo que devia formar o libello contra si.”


Texto completo, aqui

segunda-feira, fevereiro 13

[Livros] - Remexido (Ciclo Temático Remexido - Lagoa 2005)












Foi entre Maio e Agosto de 2005, que em Lagoa, aconteceu o Ciclo Temático Remexido, uma excelente iniciativa do Arquivo Municipal de Lagoa. A par das actividades organizadas pelos mesmos, em conjunto com a Câmara municipal de Lagoa, é editado este livro.
Quase como uma espécie de guia da exposição dedicada à pessoa de José Reis; outra das actividades dentro do ciclo; este livro apresenta-se de fácil leitura, ilustrado por dezenas de fotos a cores, mapas, cronologias e entre outros, cópias de certidões e registos antigos. Enfim, uma excelente publicação, que em muito vem ajudar aqueles que agora se começam a interessar pelo assunto, seja ele a figura de José Joaquim de Sousa Reis, ou a época conturbada em que viveu.


Título: Remexido
Edição: Câmara Municipal de Lagoa
Coordenação: Arquivo Municipal de Lagoa
Impressão: NC & G
Tiragem: 900 exemplares
Lagoa - Maio 2005

Sobre o ciclo "Remexido", no Pasquim da Reacção

Aqui fica também , o plano de actividades para este excelente ciclo temático... Que este mês, está patente em Monchique, penso que até dia 28 (fev.2006)





sábado, fevereiro 11

[Quadro] Na Biblioteca Nacional Digital...


Encontrámos no site da Biblioteca Nacional Digital, uma versão digitalizada de um quadro de R. Vidal, datado de 1836.
Aqui fica o link:

http://purl.pt/4299/1/

[Livros] - Remexido - Guerrilheiro realista do Algarve


Remexido - Guerrilheiro Realista do Algarve

Mais uma excelente publicação, do Algarve.

Autor: Ofir Chagas
Edição: Autor
Tiragem 1000 ex.
Gráfica Almondina - Torres Vedras
Distribuição: Clube de Tavira
Rua da Liberdade, 23
8800 tavira


"O contumaz remexido, que ficou ligado à história do Algarve como um idealista para uns e um bandoleiro sem escrúpulos para outros, é uma figura Algarvia que merece um estudo à luz da realidade e enquadrado na época conturbada em que viveu" Ofir Chagas

[Livros com pó] Célebre Guerrilheiro do Algarve e a sua Quadrilha


Caros internautas/pesquisadores, agora, e sempre que houver disponibilidade, postaremos aqui as últimas aquisições encontradas nos espólios das bibliotecas e arquivos. Lembramos que este site crescerá mais e melhor com a vossa contribuição... Caso tenham obras que narrem episódios das Guerrilhas Realistas no Algarve, e/ou o que acharem relevante neste âmbito, comuniquem connosco, através do do nosso mail osfilhosdoremexido@sapo.pt . Obrigado.

Criminosos Célebres nº7
Remexido - Célebre Guerrilheiro do Algarve e a sua Quadrilha
Verdol Júnior 18** Lisboa
72 páginas

[Encontrado na Biblioteca Municipal de Faro, disponivel para fotocópias]

Genealogia de José Joaquim de Sousa Reis


Parte da investigação que levamos a cabo sobre o caudilho, é nada mais nada menos, que a árvore genealógica dos seus ascendentes e descendentes. Já temos alguma informação, embora carecemos de muito mais. Se a quiser consultar, basta enviar-nos um mail para osfilhosdoremexido@sapo.pt e será enviado em ficheiro de excel para o seu e-mail assim que possível.

quarta-feira, outubro 19

[Livros] O Remexido, de Eduardo de Noronha

Companhia Portugueza editora, 1921

Dados indisponiveis - Tens alguma informação que queiras actualizar? envia para o nosso e-mail.

[Livros] - O Remechido, Entre a Guerra e o Amor, de José M. Castro Pinto


Um visão de conjunto sobre a vida do Remechido, que serviu no exército de D. Miguel, tendo sido promovido a brigadeiro e comandado a guerrilha na Serra algarvia. José Gascon, seu adversário liberal e autor de Subsidios para Monografia de Monchique, dedicou-lhe estas palavras:«Era um homem levantado acima da craveira vulgar. Tinha em si alma e o estofo de um heroi.»

Preço:
EUR 18,00 Editora: Plátano Editora Ano do Livro: 2005 Ano da Edição: 2005 Nº Páginas: 304 Encadernação: Brochado



terça-feira, outubro 18

[Livros] - Balada do Remexido, de José Manuel Palma



Balada do Remexido não é uma reconstituição histórica mas uma ficção, tendo como pano de fundo os acontecimentos verídicos e dramáticos ocorridos durante o cerco a Albufeira, em Julho de 1833, quando as forças do Remexido queimaram a vila e chacinaram 76 liberais depois duma rendição honrosa. Num tempo «presente» (1907), o velho Juvenal Pontes aclama a Rainha D. Amélia na sua visita ao termo de Albufeira e, ao vislumbrar os «soberbos e alvos ombros», por associação de ideias, recorda outros ombros no encontro com Lucinda, a sua primeira e grande paixão, quando desceu da serra para o Algarve, carregando o sensualismo, a coragem e os ideais dos seus dezoito anos. As páginas fluem num rosário de recordações: a guerra civil, a batalha de Asseiceira, a carreira militar, os dois fatídicos encontros com o Remexido, as aventuras e amores dum homem corrido, mulherengo e culto. Por todo o livro perpassa a brisa de uma «cultura algarvia»: nos regionalismos, nas cenas do quotidiano e em manifestações festivas como casamento, folclore, pesca do atum, santos populares e procissão, filtrados pelo olhar crítico e liberal de um algarvio do século XIX.

Titulo: Balada do Remexido
Autor: José Manuel Palma
Editora: Editorial Noticias
Ano: Lisboa 2003